sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O lado positivo da corrupção


Também fiquei um tanto chocado, quanto você ficou agora, quando eu soube do título que meu admirado amigo psicólogo, Plínio Garcia, daria para seu livro de estreia na literatura jacareiense: O lado positivo da Aids, lançado em 2011, que hoje me inspirou este artigo.


   
^^^Plínio e seu livro publicado em 2011^^^

Imito o título com a intenção de atrair você para a leitura, coisa que não está fácil conseguir nestes tempos de chuvas de escritos em redes sociais. O tema que desenvolvo perde longe para o do livro de Plínio, salvo pequenas semelhanças estruturais. Mas, é motivo de esperança ver que dá para aprender com surras que a vida nos aplica quando acha que precisamos delas.

Minha comparação, explico, perde para o tema usado pelo psicólogo no livro principalmente por ele demonstrar que a síndrome Aids, quando encarada de frente pelo portador do vírus HIV, é controlável. Já a corrupção – nunca ficou tão claro como nos dias de hoje – mostra-se dura na queda: os envolvidos em mazelas jamais se considerarem corruptos. Algumas vezes chegam até a gastar mais do que pilharam para provar não terem agido como as provas e as evidências mostram a quem quiser ver. Este é o principal obstáculo.

“ALELUIA!”

Em artigo publicado na Folha de São Paulo, quarta-feira, 27, intitulado Conselhos sem moral (Ilustrada pág. C8), o colunista Marcelo Coelho comenta estatística editorial da Amazon brasileira. Segundo os números mostram, o livro Como fazer amigos e influenciar pessoas, do escritor norte-americano Dale Carnegie (1888-1955), publicado em 1937, foi o livro mais vendido de 2017, só pela Amazon – somando impresso e digital –, o que deixa para trás, com tremenda folga, medalhões como Dan Brown, John Grisham e Paulo Coelho.


^^^Marcelo Coelho, colunista da Folha de São Paulo


Por causa dessa façanha, a Folha deu a ela quase metade da última página do caderno Ilustrada, – espaço considerado nobre pelas editorias de jornal. E isto, por si só, é tido como outra façanha, porque o jornal dificilmente abre espaço para um livro de psicologia aplicada como o assunto era classificado na época (anos mais tarde foi apelidado de “autoajuda”). Articulistas e críticos do jornal, em sua quase totalidade, sempre torceram o nariz só de ouvir a menção tanto aos títulos desse gênero quanto à classificação sistemática das obras, a tal autoajuda.

Sinal dos tempos. Para você ter uma ideia, em 2007, Como fazer amigos e influenciar pessoas já estava na 51ª edição e havia vendido mais de 50 milhões de exemplares pelo mundo. A estatística da Amazon, dez anos depois, ao mostrar o desempenho editorial do livro foi decisiva para amenizar a aparente birra da Folha para com livros de autoajuda. Tanto que abriu cinco grandes colunas para Marcelo Coelho (com ilustração de Lulli Penna) falar de uma obra escrita há exatos 80 anos e que ainda é show de bola.


^^^Um dos livros mais vendidos no mundo


Alvíssaras! exclamaria um jornalista de 1937, época em que saiu a primeira edição do livro, exclamação que aplaude uma boa notícia publicada e pede um prêmio para ela (dicionário Priberam da língua portuguesa). Prêmios, no caso, já entregues, pois se somarmos os quase 100 milhões de exemplares do livro vendidos até hoje; a Marcelo Coelho ter lido a obra (mesmo que tenha sido só para comentá-la) e a Folha ter aberto o espaço Dale Carnegie pode descansar em paz que já foi consolidadamente reconhecido.

MAS, E A CORRUPÇÃO?!

Assim como o livro do meu amigo Plínio registra que a Aids tem seu lado positivo quanto à meta da transformação humana (entre a população doente e a não infectada) com a mudança de hábitos, conceitos e visão sociais), a corrupção tem seu lado positivo. Isto quando (e se) aprendermos que a sociedade não pode descuidar um  minuto dos comportamentos e ações de seus governantes. Nunca. Sempre quando nos mostrar o quanto erramos ao assinar, às vezes por pura negligência, verdadeiros cheques em branco para cidadãos que nos prometem mundos e fundos e nos esquecem já no dia seguinte em que os elegemos.


O livro de Dale Carnegie tem, de fato, mudado a vida de muita gente nestes exatos 80 anos de sua primeira publicação, mas tem também gerado muita polêmica sincera, caluniosa ou de preconceito. Preconceituosa quando considera os preceitos ensinados por ele como sendo, no mínimo matéria de uma “escola de hipocrisia”, o que é injusto.

Não dá para ver hipocrisia em aconselhar você a interessar-se com sinceridade pelas pessoas com quem se relaciona, a ouvir atentamente o que elas dizem e a não magoá-las de modo nenhum a começar por críticas desnecessárias, enfim, não espantar as abelhas se quiser colher mel. Cito apenas quatro dicas das dezenas que Carnegie ensina e as exemplifica à exaustão.

UMA PENA

Tais preceitos podem ser mal interpretados ou tornarem-se perigosos se aplicados por alguém de inteligência torta voltada para o mal. É um risco que corremos sempre em quaisquer situações do cotidiano, porém que não invalida o esforço quase doutrinário do autor. Dale Carnegie estava  empenhado no início do século passado em transformar para melhor o relacionamento entre milhões de pessoas machucadas por incertezas de todos os tipos. Lembre-se que estávamos às vésperas da Segunda Guerra Mundial e o mundo mostrava-se como nunca um lugar difícil e perigoso para se viver.


Carnegie previu isso e colocou-se a campo. Percebe-se logo na introdução do livro pela maneira segura e quase impositiva que ele encarou a empreitada. Porém, como nada é perfeito, no caso da corrupção, ele talvez tenha cometido um engano técnico considerável ao distribuir as matérias nas cerca de 300 páginas de Como fazer amigos e influenciar pessoas: apresentou um de seus conceitos básicos que muito contribuiria no lidar com os corruptos (embora isto não esteja mencionado objetivamente no texto), logo nas 15 páginas iniciais do livro. 

Nesse primeiro momento, o leitor ainda não está preparado para receber os novos 'modelos de ser' para que mude seu comportamento de forma (às vezes) radical. E trata-se de um conceito muito simples, porém, como em muitos de nós pode significar mudança de um comportamento quase sempre enraizado por anos e anos, um preceito tão simples transforma-se quase em sacrifício. 

Para mim, o livro deveria começar na parte II e depois continuar pelas partes I, III etc. Prepararia mais o leitor interessado numa compensadora e nova forma de viver. Uma pena. 



Contato: bvelosomc@gmail.com

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Os Três Reis Magos e o menino

Conto de Natal de Ludmila Saharov

Certa noite, há muito, muito tempo atrás, numa terra bem distante, três reis caminhavam no deserto, seguindo uma estrela.
Na verdade, eles não deviam ser reis. Reis não caminham no deserto. Reis viajam em carruagens, ou em garbosos cavalos, acompanhados por um séquito de vassalos. E, também, guiam-se por mapas desenhados em velhos pergaminhos. Nunca por estrelas.
Quem seriam esses personagens então?
Talvez fossem magos!
Mas, o que três magos fariam no meio do deserto? Se eram magos, não precisariam guiar-se por estrelas... no mínimo teriam uma varinha encantada, ou bola de cristal a lhes indicar o caminho, ou mesmo um falcão com olhar que tudo vê...

Ah! Esses homens, então, deviam ser Sábios. Naquele tempo antigo, só os homens sábios poderiam guiar-se por uma estrela. Por quê?
Porque eles sabiam ler o céu e conversar com as estrelas.

E o céu lhes contou que, por aqueles dias, nasceria uma criança que seria muito amada por ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e velhos, e que seria conhecida no mundo inteiro como “o rei dos reis.” 
E o céu lhes contou também, que, perto do dia de seu nascimento, uma estrela enorme brilharia no céu para indicar-lhes a senda.

Assim partiram os sábios, de seus distantes e exóticos países, em busca da criança e da estrela, e se encontraram pelo caminho.
"Onde você acha que esse rei nascerá?", perguntou Gaspar, o sábio que vinha da Índia, e levava de presente para o pequeno rei, um receptáculo, cheio de precioso incenso, como prova de sua adoração.
"Em algum palácio, no deserto", ponderou Baltazar, que vinha da Arábia, trazendo num vaso de cristal, a perfumada mirra, simbolizando a imortalidade.
"Mas eu já andei tanto por aqui e nunca soube de nenhum palácio nas redondezas", retrucou Melchior, que estava vindo desde a longínqua Pérsia, e trazia de presente para o menino, o mais puro ouro, em homenagem à sua realeza. "Mas, o céu nunca nos enganou antes, então, continuemos a viagem até que a estrela apareça e nos guie ao local secreto".

E assim os Sábios viajaram muito tempo pelo deserto, montados em seus dromedários, em busca do menino rei. À noite, acomodavam-se sobre seus tapetes coloridos, debaixo do céu estrelado, e comiam tâmaras com mel, e nozes. Quando encontravam algum oásis, aproveitavam para deitar-se à sombra das palmeiras, desatrelar os animais, recolher água em seus cantis e refrescar o corpo nas nascentes.
E conversavam... conversavam... cada qual se vangloriando das belezas de seu país, e fazendo conjecturas sobre os reais pais da criança. Seriam nobres hebreus? Seriam romanos?
Finalmente, numa noite de céu sem nuvens, viram brilhar a estrela guia. Sua luminosidade era tão intensa, que desenhava no chão de areia uma estrada de luz.

"Finalmente!" exclamaram em uníssono e puseram-se em marcha. Caminharam a noite inteira, e, já com os primeiros raios da manhã, chegaram a um estábulo. Olharam para o céu... a estrela desaparecera.
De onde então vinha tanta luz?
Aproximaram-se da tosca construção, e lá, deitada numa manjedoura, transformada em berço, estava a criança. E brilhava... e brilhava tanto, que os magos ajoelharam-se para adorá-la. E havia vacas, cães, ovelhas e pastores, e também um pequeno burrinho à sua volta, apaixonados por aquele bebezinho que emitia tanta luz. E, ao seu lado, uma jovem mulher, em trajes muito simples: uma veste branca, de linho, encimada por um manto azul, e um homem de mais idade, apoiado num cajado, amparando-a com o braço livre.
Ninguém pediu explicações. Ninguém emitiu um único som, para não assustar o recém nascido, que, com sorriso aberto no rosto, dormia feliz em meio às palhas e aos panos.
(Ludmila Saharovsky)
Escritora, artista plástica,
mora em Jacareí - SP

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Samuel e os doutores da Lei



A coincidência dos fatos aqui descritos é apenas curiosidade, embora haja a crença de que “o dia-a-dia também nos conta histórias”. Quem tiver “olhos para ouvir, leia” diria o poeta surrealista; porém, prefiro acreditar na obra do acaso; a vida já é complicada o suficiente para que eu tome seu tempo semeando confusão.
 Aconteceu em 17 deste dezembro, uma linda tarde ensolarada de domingo, quando a Academia Jacarehyense de Letras realizou festa de confraternização. O local foi o recanto paradisíaco do casal Sandra e Ronald, em Santa Branca, no limite com Jacareí demarcado ali pelo Rio Paraíba do Sul. Sandra, uma de nossas acadêmicas, ofereceu-nos graciosamente a casa ribeirinha para o evento. ‘Graciosamente’ é pouco; no 'pacote' vieram bolo, bolinhos, biscoitos, salgados de forno, quitutes e que tais. Sem falar numa chopeira exclusiva na qual nos servíamos à vontade.


No local, o rio faz uma curva em "S"

MOMENTO DE 'JOGAR CONVERSA FORA'
​A certa altura, elegemos um ponto estratégico da ampla varanda em “L”, com vista para o rio, a fim de trocarmos impressões sobre o local. Depois, a conversa enveredou para outros temas inspirados na beleza do cenário. O Paraíba ali se desenha bucólico em suave “S” – coisa linda de se ver. O “L” da varanda e o “S” do rio deram o toque literário apropriado.

Estávamos em um grupo de oito escritores. Havia ainda professor, jornalistas e um advogado famoso na região, Dr. Maurício, respeitado por todos pela reputação profissional, lucidez e energia que dele emanavam aos 85 anos. Claro que Maurício dominava nossas atenções até pela vivência que demonstrava nas narrativas tanto jurídicas quanto da história da cidade. As idades dos demais participantes estavam acima dos 45, exceto a do jovem Samuel, filho de Salette, de 13 anos.

VELHO MUNDO QUE SE REPETE
 Eu havia me retirado da varanda por cerca de 15 minutos e quando retornei tive uma surpresa. Quem conduzia a conversa naquele momento não era mais o sábio advogado veterano, e sim o menino Samuel para o qual todos olhavam atentos com admiração e faziam perguntas sobre o que ele explicava. Inclusive o Dr. Maurício. A todos, Samuel respondia com firmeza e tranquilidade incomuns para alguém de apenas 13 anos.


Samuel roubou a cena com seu linguajar tecnológico

O tema da conversa era outro. Falava-se de jogos eletrônicos para computador, das características e respectivas tecnologias, assunto, diga-se, 'indiscorrível' para quem já passou dos 40. Salvou-nos o professor Mário, que durante um bom tempo deu aulas de Tecnologia da Informação na Univap (Universidade do Vale do Paraíba). Mário foi nosso mediador improvisado, que também explicou-nos palavras que, para muitos (nos quais me incluo), soavam estranhas, tipo “cheat, gamers, cutscenes, let’s play, skin, speedrum”, e tantas outras que ele nos explicava como podia para que entendêssemos como desse.

CLIMA DE NATAL
Já estávamos em clima de Natal e, talvez por isso, me veio à mente um dos poucos episódios da Escritura Sagrada que relatam a infância de Jesus de Nazaré. Está registrado no capítulo 2º do evangelho de Lucas: Levado pelos pais, José e Maria, que haviam participado da confraternização da Páscoa em Jerusalém, como era de hábito naquele tempo, o menino Jesus, então com quase a idade do nosso Samuel, 12 anos, não estava com os demais na caravana que retornava para Nazaré, já na saída de Jerusalém.
Os doutores ficavam admirados com que o menino Jesus dizia

Depois de voltarem para procurar Jesus, encontraram-no falando aos doutores da Lei, no templo. O menino respondia a perguntas sobre as Escrituras, de modo semelhante ao que Samuel explicava, em Santa Branca, 'games eletrônicos' aos doutores de outras leis. E, igual aos de Jerusalém, os 'doutores' de Jacareí também se admiravam do que falava o jovem Samuel, 2 mil anos depois no moderno ‘templo de amor fraterno' disponibilizado aos acadêmicos pelos anfitriões.
Notava-se nas expressões do Dr. Maurício, Geraldo, Paulo, Mário, Waldir, Cristina, Sandra, Dinamara e outros que estavam ao redor que algo neles havia mudado; no mínimo o conceito sobre o ‘poder’ que jovens inteligentes exercem sobre nós adultos sempre que lhes abramos oportunidades –, melhor dizendo, 'abramos nossos ouvidos', no caso.

QUESTÃO DE TEMPO, TEMA E LUGAR
Você deve estar perguntando "o que tem um fato a ver com aquele outro?!"
Sem situar cada história no seu devido tempo, espaço e contexto, nada. Porém, se olharmos para dentro de nós em reflexão, tudo. Naqueles momentos mágicos, dois habitantes da terra demonstraram o potencial da inteligência humana. Valeram-se, para isso, da capacidade que todos herdamos do Criador para, explicar, realizar, criar e usufruir do que melhor nos inspira. 
O restante, como o tema, o tempo e o lugar servem para nos dar referencias, mas é sempre a inteligência humana a que provoca as admirações.
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Em Santa Branca, a exuberância da natureza ao redor emoldurava o cenário para valorizar ainda mais a gentileza com que fomos agraciados por Sandra e o Ronald. Em Jerusalém, a missão do Deus menino foi anunciar para que todos preparassem o melhor de si para o que ainda viria séculos a fora.

Quanto aos temas desenvolvidos pelos protagonistas das histórias, são bons, mas nada mais são que temas que podem a qualquer instante ser superados -- como a maioria o é. Porém, a inteligência que os gera é o que conta. Tanto assim, que hoje (voltemos para Santa Branca), pouco tempo depois, nos lembramos mais das pessoas que ali estavam do que os detalhes dos casos ali discutidos.

Da varanda em "L" vê-se o rio em uma curva em "S"

Em Santa Branca, Jerusalém ou nos incontáveis pontos de acontecimentos semelhantes que mudaram e continuarão a mudar o mundo; sempre as ações humanas é que potencializam a capacidade criadora e imaginativa da mulher e do homem. São amostras constantes a valorizar o que está dentro de nós desde o primeiro ser humano. Como se fossem lembretes divinos de que somos uma grande força criadora.

Talvez tenhamos vivido naquela confraternização de domingo em Santa Branca não uma, porém várias confraternizações: a da experiência jovem com a madura; a do Novo com o Velho Testamento e tantas outras não aparentes, porém não menos maravilhosas que ainda descobriremos.

A época do Natal é apropriada para essas coisas.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Jacareí perdoa dívida de R$ 1,7 milhão de clubes












Fachada antiga do Trianon






Entidades recreativas e esportivas de Jacareí sem fins lucrativos e que tenham sede própria não
precisam mais se preocupar com o pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). A câmara aprovou projeto do prefeito Izaías Santana que concede perdão para as entidades que possuem dívidas não pagas e torna isentas do imposto, daqui para frente, as que não devem nada, desde que cumpram certos requisitos que serão apresentados pela prefeitura e discutido com cada uma.

Seis delas, Associação Nipo Brasileira, Clube da Saudade, Clube de Malha XI de Junho, Escola de Samba Mocidade Independente, Esporte Clube Elvira e Ponte Preta acumularam em dez anos 1,7 milhão em IPTU atrasado. Estão em dia o Trianon Clube e o Clube Atlético Boa Vontade. Proporcionalmente ao que oferece, o Clube da Saudade é o maior devedor com um rombo próximo a R$ 400 mil. Nominalmente, o maior devedor é o Ponte Preta: quase R$ 800 mil, seguido pelo 
Esporte Clube Elvira, com cerca de R$ 425 mil negativos, porém, ambos com maiores espaço e diversidade de itens a oferecer. 

Entre os menores, a Associação Nipo Brasileira deve R$ 65 mil,  o Clube de Malha XI de Junho, perto de R$ 10 mil e a Escola de Samba Mocidade Independente algo perto de R$ 8 mil. Os clubes Trianon (foto acima) e Boa Vontade estão com seus compromissos em dia.

CONTRAPARTIDA

Ao serem beneficiadas com remissão ou isenção de IPTU as entidades além das dívidas perdoadas, ficarão isentas de pagamento futuro do imposto. Em contrapartida, terão de ceder espaço em suas dependências para que a prefeitura desenvolva atividades esportivas gratuitas para a população. Trianon e Boa Vontade ficam isentas do pagamento do IPTU e, obviamente, não terão contrapartida. Porém ,se quiserem, podem oferecer espaços para esportes que convenham às atividades da prefeitura e serão pagas por isso. 

Esse uso compensatório resolve, também o problema da interrupção de atividade nas férias para esse público atendido pela prefeitura, principalmente o idoso, como acontece agora. Semana passada, a Câmara manteve o veto de Izaías a projeto da vereadora Márcia Santos (PV) que indiretamente mantinha essa atividade ininterrupta. Como as atividades são de responsabilidade das secretarias de esporte e de educação, não há atendimento no período das férias de dezembro, janeiro e julho, em prejuízo dos assistidos.

Elvira: perdão de quase R$ 800 milhões em IPTU

ATENDE A TODOS

A proposta baseia-se nos termos da Constituição que garante a todos o direito à prática esportiva como preventivo de doenças. A isenção do IPTU, assim, vai ao encontro dos interesses das associações esportivas e recreativas que já sofrem pela diminuição de associados a cada dia. Como atende às pessoas interessadas na prática de esportes como melhoria de qualidade de vida, indiretamente beneficia a secretaria da saúde pela diminuição da demanda.

Não fica só nisso. A população que não pode praticar esportes ou ginásticas associando-se a um clube pago, vai agora usufruir do benefício gratuitamente nos mesmos clubes que não teria condição de frequentar. A prefeitura também ganha. Tanto por não ter que acionar os clubes na Justiça causando mal estar entre ela e os associados desses clubes - que, afinal são munícipes -, não precisa gastar com adaptações de imóveis que alugaria para esses fins, quanto não precisa contratar pessoal para manutenção da demanda. Muitos funcionários que cuidam da base já trabalham no próprio clube.

sábado, 16 de setembro de 2017

Não será por falta de avisos..

Se esta fosse uma página de jornal ligado à religião caberiam aqui citações bíblicas para comentar o momento brasileiro: “Antes da ruína vem o orgulho e antes da queda, a presunção (Provérbios 16,18)”. Outra, seria: “tudo o que está escondido tornar-se-á manifesto. E tudo o que está em segredo deverá ser descoberto (Marcos 4,22)”. Mas, como somos um jornal leigo, vamos entender o Brasil que vivenciamos de maneira laica.

As coisas poderiam estar a passos comportados se o empresário Joesley Batista, não tivesse cometido atos de orgulho e presunção ao cantar de galo, como se viu naquele célebre telefonema com Ricardo Said, executivo do seu grupo empresarial: “Nóis não vai preso” gabou-se ele em certo trecho da conversa grampeada que o Brasil inteiro fartou-se de ouvir. “Na escola que você estuda eu já sou diplomado”, jactou-se Joesley em outro trecho do telefonema, referindo-se ao que diria ao então procurador geral da república, Rodrigo Janot, se conseguisse conversar com ele como disse que pretendia.

Interessante é que a Bíblia além de prever fatos deixa margem para a tradução brasileira passar recados com bom humor como, no caso da citação acima, encaixar muito bem o uso da mesóclise (tornar-se-á), muito oportuna em se tratando de comentar as denúncias contra o presidente “mesocleiro” Michel Temer, que a usa sempre.

Da Praça dos Três Poderes em Brasília à Praça dos Três Poderes de Jacareí, simultaneamente as advertências celestes se fizeram sentir nestes tempos. Por aqui, com a CPI da Pro Lar, que ouviu novamente duas testemunhas-chaves para fechar o inquérito do primeiro tropeço criminalizado neste século na administração municipal. De novo, todas as flechas do bambuzal dirigiram-se, como prevíramos, ao diretor administrativo Christian Antunes (matéria nesta edição).

Nem mesmo faltou o simbolismo embutido no ato denunciado: suposta limpeza de áreas da Fundação Pró Lar que não foram limpas. Espera-se que a similaridade com textos proverbiais continue nos julgamentos e tanto por aqui como em Brasília cumpra-se o ensinamento de que “há um profeta nos lábios do bom juiz e sua boca não erra na sentença”. Mas, como foi dito no início, esta não é uma página de jornal ligada à religião – na verdade, nem os textos bíblicos  o são.


É a nossa opinião.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Surgem irregularidades na administração da Pró Lar - Jacareí

O ex-prefeito Hamilton Mota depõe à CPI em 5 de setembro



Em 13 de setembro, as servidoras Andrea e Sandra depõem novamente




Passei a tarde de hoje (terça-feira, 12) no auditório B da Câmara Municipal de Jacareí, onde duas testemunhas voltaram a depor para esclarecer pontos que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apura sinais de irregularidades na administração da Fundação Pró Lar na gestão passada, entendeu estarem contraditórios em relação ao primeiro depoimento que deram.
Os membros da CPI concluíram que não batem os depoimentos anteriores das servidoras Andrea Miguel Rocha Faro e Sandra Maria da Silva (ambas na foto) e , respectivamente gerente de finanças e auxiliar de serviços municipais da Fundação Pró-Lar de Jacareí, não batem, repito, se comparados aos depoimentos do presidente da Pro Lar, José Rubens de Souza, do diretor administrativo Christian Petterson Antunes Lemos, e do ex-prefeito Hamilton Ribeiro Mota (*).
CONTRADITÓRIO - Durante o depoimento, Sandra Maria da Silva reafirmou que os processos de compra dos serviços de capina e limpeza de terrenos, realizados especialmente entre os meses de setembro e novembro de 2016 – desde a solicitação do pedido até a autorização de execução e pagamento ao fornecedor – eram elaborados exclusivamente pelo ex-diretor administrativo-financeiro da fundação, Christian Peterson, sem o conhecimento e supervisão do setor de compras, este sim a quem cabe o trâmite documental. Ao depor, Christian havia negado essa responsabilidade e disse que o dever seria de Andrea e Sandra. 
Neste segundo depoimento, ao ser questionado sobre tal contradição, Andrea reafirmou o que dissera antes e enfatizou que Christian mentiu ao depor. Para comprovar, mostrou cópia de vários e-mails e bilhetes enviados a ela por Christian que comprovavam o que dizia - 'matou a cobra e mostrou os emails'.
Christian Lemos, que era funcionário municipal concursado, foi demitido pelo prefeito Izaías Santana (PSDB) após o processo administrativo instaurado em 26 de janeiro deste ano na prefeitura sobre esse caso.
REPERCUSSÃO - Na opinião do presidente da CPI, vereador Rodrigo Salomon (PSDB), os dados apresentados pelas duas servidoras reiteram as informações colhidas em depoimento do atual diretor administrativo-financeiro da Fundação, Alexsandro Quadros Rocha, que afirmou que a prática administrativa mobilizou 66% do fluxo de caixa da Pró-Lar ao longo de 2016 somente para o pagamento de serviços de limpeza de terrenos, percentual que correspondeu a recursos da ordem de R$ 1,1 milhão, provenientes de decretos assinados pela administração municipal anterior para suplementação de crédito à instituição.
“Foi uma prática administrativa adotada pela gestão anterior para driblar exigências de abertura de licitação pública, estabelecidas na Lei Federal nº 8.666, de 1993”, afirmou Salomon..

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(*) Para o leitor que não é de Jacareí, ou que não está a par do assunto, convém explicar que a fundação Pró Lar é uma entidade independente da Administração Municipal. Ela cuida de assuntos relacionados a moradias populares e regularização de terrenos e habitações clandestinos, a maioria para servir à população de baixa renda.

A Pró Lar possui verba e corpos administrativo, jurídico e funcional próprios, e vive de repasses financeiros do Executivo estabelecidos no orçamento de cada ano. Quase ao final da administração passada houve um salto nos gastos com capina e limpeza de terrenos da entidade, 30 vezes maiores do que vinham sendo os pagamentos até então pelo mesmo serviço. E sem licitação, fato que por si só já é passível de punições aos responsáveis.

Os integrantes da CPI são os vereadores Rodrigo Salomon (PSDB), presidente, Abner de Madureira (PR), relator, e Juarez Araújo (PSD), membro. O promotor de Justiça e Cidadania, José Luiz Bednarski acompanha os trabalhos como ouvinte.

domingo, 10 de setembro de 2017

Por que escrever?

(Frei Betto)


Li no recente livro do Frei Betto, 'Ofício de escrever'*, confissões que ele faz sobre o segundo sacerdócio a que se dedica: o de escritor. Hoje, aos 73 anos, o militante da 'Teologia da libertação', afirma, dentre outras explicações, que é por meio da escrita que ele recria o mundo.

Talvez seja essa a principal atração que exerce sobre nós o ato de escrever, ou seja, o de criarmos um mundinho só nosso e, claro, à nossa maneira. Para ele, escrever é uma coisa tão íntima que prefere fazê-la isolado do mundão em que vive - altas horas da noite, se for preciso.

Frei Betto ao escrever de seu mundinho o trecho que destaco, brinca com as palavras para mostrar que nessa pátria imaginária ele faz e desfaz o texto como lhe der na telha - numa prerrogativa de "clone de Deus", como ele mesmo se denomina. "No princípio era o Verbo e o verbo se fez carne" escreve, referindo-se ao prólogo do Evangelho de São João. No princípio era a 'verba' - escrevo eu agora como exemplo - e a verba se fez carne e a carne fez mais verba até  o esquema ser barrado pela Polícia Federal; os irmãos Batista da 'JBS' que o digam.

Duas outras observações chamam à atenção: uma delas é a importância do contexto tanto para quem escreve quanto para quem lê. Exemplifica: "Um alemão tem mais condições de desfrutar da leitura das obras de Goethe que um brasileiro. Este, por sua vez, ganha do alemão ao incursar pelos grandes sertões e vereadas de Guimarães Rosa", explica Frei Betto. Isto me encoraja a defender que escrevamos mais sobre o lugar em que vivemos quando o alvo da escrita, o leitor, for nosso concidadão.

A outra obervação relevante é a explicação que ele dá sobre a prática: "Escrevo, enfim, para extravasar meu sentimento de mundo" e porque "não sei fazer outra coisa nem vejo motivo para deixar de fazê-lo".

Depois de essas e outras explicações não menos perturbadoras sobre o impulso de escrever ele ainda continua a perguntar: "por que escrevo?".

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*Editora Anfiteatro, 2017.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Filme chega defasado, mas esclarecedor

Calloni, Flávia, Bruce e Baldacerini


Assisti sexta-feira, 8, o filme “Polícia Federal -  A lei é igual para todos” baseado na “Operação Lava-jato” de combate à corrupção no Brasil. Uma produção bem feita graças principalmente ao profissionalismo da equipe, Antonio Calloni, Flávia Alessandra, Bruce Gromlevsky e João Baldacerini (na ordem da foto), porém não perfeita.

Tem méritos. Quem ainda não entendeu o momento pelo qual o país atravessa, tem uma boa oportunidade de colocar os fatos em ordem mais clara e entende-los. É inevitável também que a produção gere críticas apaixonadas porque cita com todas as letras PT, PMDB e PP como principais grupos que adotam a corrupção como norma de exercer política e poder. Assim, transformam cargos e ações políticas em negócios bilionários.

Numa segunda leitura, entretanto, tem-se a impressão de que “Polícia Federal -  A lei é igual para todos” será benéfico para as operações anticorrupção que se desdobraram a partir do escândalo da Petrobrás, embora popularmente todas sejam chamadas de ‘lava jato” independente do nome e finalidade que tenham.

Também, o filme vai colaborar para a consolidação dos trabalhos que são realizados ininterruptamente de combate à corrupção e nos surpreendem a cada dia. Isto prejudicou em parte o filme porque ele estreou defasado; boa parte dele serve apenas como referência, dada a riqueza de outros fatos que a cada dia apareceram, continuam aparecendo e superam os anteriores.

Há grandes valores implícitos no filme. Um deles é o de aumentar o número de pessoas que passarão a ver nossos problemas com mais clareza – isto pode provocar uma reação positiva de desejo de combatê-los, portanto, aumenta a consciência de cidadania.  Outro é ver a dimensão da guerra da qual estamos envolvidos indiretamente e podemos ajudá-la se passarmos a nos envolver nela diretamente. E apenas para citar mais uma de tantas outras, e devolver-nos a esperança de que podemos deixar um país melhor para as próximas gerações.


Um adendo: com um pouquinho de imaginação, dá para enquadrar a delação-bomba do ex-ministro de Lula e Dilma, Antônio Palocci, divulgada exatamente no dia em que o filme foi lançado nacionalmente (7 de setembro, Dia da Independência). Esse e outros sinais são bem nítidos, mas o espaço não me permite comentar, porém, você poderá percebê-los indo assistir ao filme. 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Fim de cada dia


Vejo pela janela apenas
uma fração da minha cidade
sendo retocada
no Photoshop do entardecer.

Logo mais,
a noite vai deixar negra
a mancha agora verde da capituba
que aos poucos
engole o rio,
como se fosse a mando
de um inimigo
que tenta me proibir
de ser feliz.

Seja lá quem for,
vai conseguir
que tudo desapareça
daqui a pouco,
menos a certeza
de que,
 amanhã, no horário de sempre,
uma nova luz recomporá
a cena.

Obrigado,
Deus.



segunda-feira, 29 de maio de 2017

Paz, amor e liberdade



O ano era 1969. Vivíamos o governo militar sob a presidência do general Artur da Costa e Silva que, no ano anterior, editara o AI5 (Ato Institucional nº 5) o mais duro do regime. O Congresso foi fechado, políticos e lideranças eram presos ou tinham mandatos cassados, ou ambas as coisas, por simples suspeita, e a repressão foi institucionalizada. A censura a produções artísticas tornara-se mais severa e implacável. Nesse clima cinzento foi montada no Brasil, por iniciativa de Ademar Guerra, a peça Hair: The American Tribal Love-Rock, escrita nos Estados Unidos por James Rado e Gerome Ragni, um rock-musical que fazia sucesso estrondoso na Broadway desde quando foi lançada, em abril de 1998, um ano antes. O mesmo fenômeno artístico acontecia com a apresentação da peça em vários países.
No citado ambiente repressivo do Brasil de então, onde nudez, liberdade sexual e liberdade de expressão eram temas perseguidos, uma peça que trouxesse nudez coletiva e pregasse liberdade sexual e de expressão, reunia tudo para não vingar. Ademar Guerra apostou no contrário: era preciso um grito de desabafo e de esperança. Não desistiu de montá-la e, depois de várias gestões junto às autoridades, conseguiu liberar o espetáculo; não sem evitar cortes no texto e vigilância à nudez coletiva. Dentre outras restrições, a cena de nudez teria de durar um minuto e os atores não poderiam mexer-se no palco durante esse tempo. 
Ficariam estáticos.


 Nei Latorraca em Hair (1969) no Teatro Bela Vista

Hair estreou no Brasil em 1969 no Teatro Bela Vista, em São Paulo, dirigido por Guerra. A peça, que já era o maior clássico do musical rock mundial, manteve o mesmo sucesso no Brasil durante a exibição concorrida de aproximadamente três anos. Os ideais transgressores do movimento hippie foram acentuados e Hair tornou-se divisor de águas entre o comportamento dos jovens de até então. Ainda se notam vestígios daquela época em certa camada jovem, frutos da revolução sexual, uso de drogas e certo engajamento político, social e inclusivo.

As manifestações contrárias à guerra do Vietnã, à destruição ambiental e ao preconceito entre raças, credos, classes e sexos “norteavam o que acontecia fora e dentro do palco”, diz Luiz Felipe Reis (O Globo: 3/11/2010). Focados em impedir nos teatros as quebras de costumes, como inibição da nudez, proibição do uso de drogas e discriminações sociais veladas, o governo repressor, apesar da truculência, não se dava conta da revolução que acontecia no mundo fora dos palcos onde a peça era apresentada. No Brasil, o sucesso da peça revelou atores como Antônio Fagundes, Sônia Braga, Nei Latorraca, Aracy Balabanian, Armando Bógus, José Wilker, Ivone Hoffman, Fernando Reski e Rosa Maria, todos em início de carreira.

 Cena estática de nu coletivo encerrava a peça



Para muitos (talvez a maioria), entretanto, a encenação falava de amor, e isso era o que valia; a beleza das músicas, a ousadia das interpretações a descontração das cenas bastavam para satisfazer como espetáculo. Hair transformou-se em filme (1979) e voltou aos ao Brasil em 2010, no Rio de Janeiro, sob outro contexto político nacional e sem o mesmo sucesso; faltava-lhe causa mais definida.    

Portanto, mais de 40 anos depois, em 5 de maio de 2010, Hair foi novamente encenada no Brasil, agora  no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, trazida pela dupla de produtores Claudio Botelho e Charles Möeller. Ambos haviam assistido ao revival da peça em 2009, em Nova Iorque, e voltaram de lá decididos a remontá-la também no Brasil. A estreia foi cercada de glamour com a presença dos atores de 1969, agora astros e estrelas consagrados pela televisão. A direção de Diane Paulus optou por selecionar um elenco de novatos que vivesse personagens antigos com perfis atualizados, que não atingiu o mesmo brilho daquela primeira turma de atores, mas deu conta do recado.  Embora se procurasse ambientar a peça em 1968, o cenário extra palco deste século era outro e, certamente, influenciou o resultado menor.


O Brasil de agora se fez mais arredio a sonhos utópicos, embora não seja menos frustrante para as inquietudes da mocidade. Um país mais avançado, se analisado pelos avanços tecnológicos predominantes no mundo, mostrado até pela sofisticada produção.

Porém, de certo modo, era quase o mesmo país – se não pior – quando examinado pela realidade social enfrentada pela juventude deste segundo decênio do século 21. Realidade que já começava a exigir os primeiros toques de alerta. Um Brasil bem diferente daquele dos “bichos” de cabelos compridos e das jovens ousadas que lançaram a minissaia e a calça jeans desbotada em l969.


               Montagem de 2010 com atores novos

Cena do filme Hair, de 1979


Esse diferencial 
entre montagens bem visível deve-se ao fato de que os jovens de 1969 em nada serem parecidos com os de agora, presos, estes, nas redes sociais e na comunicação eletrônica. Nossos contemporâneos nada têm a ver com aqueles, hoje senhores, sobreviventes dos “anos Hair I”. Para aqueles sonhadores da paz e do amor universais, em breve começaria a mística “Era de Aquário”, tão logo “a Lua estivesse na Sétima Casa e Júpiter alinhasse com Marte”, coisa que ninguém sabia determinar quando isso se daria, nem interessava. Para eles, o importante era que nesse momento atingiríamos a gloriosa plenitude de viver sem barreiras egoístas.           >>>




Cena do filme Hair, de 1979

Na apresentação de Hair no Teatro Casa Grande, do Rio de Janeiro, ouviu-se outra vez as músicas Aquarius, Hare Krishna, Good Morning Starshine, The Flesh Failures, Where do I Go? e outras nas quais se sustentou a peça. Porém, mesmo com arranjos mais elaborados e técnicas de apoio mais sofisticadas que as de antes, as de 2010 não reproduziram o mesmo som, não tiveram o mesmo sabor, nem tocaram os expectadores da mesma maneira. Faltava-lhes uma intensidade de alma, um sonho, uma centelha que identificasse uma causa.

A juventude dos anos 60 queria o fim das mortes estúpidas impostas aos jovens que partiam sem volta para guerras injustificadas, como a do Vietnã, tão ceifadoras de vidas ainda em formação.  Os jovens deste século continuam morrendo por velocidade nas estradas, overdose de drogas e por nada em esquina de uma rua de qualquer cidade.
Antes morriam nas batalhas por bombas padronizadas; hoje, apesar as armas seres ficado mais sofisticadas, morrem metralhados em salas de aula, por humanos que se explodem em saídas de shows infantis; por balas e expectativas perdidas no mesmo Rio que foi palco de Hair pela segunda vez no Brasil.
Haverá uma terceira montagem da peça Hair no Brasil? Difícil. Talvez por falta de perspectiva, de legados ou de sonhos. Afinal, a velha bomba atômica de 1945 ainda nos ameaça a todos q





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