Conto de Natal de Ludmila Saharov
Certa noite, há muito, muito tempo atrás, numa terra bem distante, três reis caminhavam no deserto, seguindo uma estrela.
Na verdade, eles não deviam ser reis. Reis não caminham no deserto. Reis viajam em carruagens, ou em garbosos cavalos, acompanhados por um séquito de vassalos. E, também, guiam-se por mapas desenhados em velhos pergaminhos. Nunca por estrelas.
Quem seriam esses personagens então?
Talvez fossem magos!
Mas, o que três magos fariam no meio do deserto? Se eram magos, não precisariam guiar-se por estrelas... no mínimo teriam uma varinha encantada, ou bola de cristal a lhes indicar o caminho, ou mesmo um falcão com olhar que tudo vê...
Ah! Esses homens, então, deviam ser Sábios. Naquele tempo antigo, só os homens sábios poderiam guiar-se por uma estrela. Por quê?
Porque eles sabiam ler o céu e conversar com as estrelas.
E o céu lhes contou que, por aqueles dias, nasceria uma criança que seria muito amada por ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e velhos, e que seria conhecida no mundo inteiro como “o rei dos reis.”
E o céu lhes contou também, que, perto do dia de seu nascimento, uma estrela enorme brilharia no céu para indicar-lhes a senda.
Assim partiram os sábios, de seus distantes e exóticos países, em busca da criança e da estrela, e se encontraram pelo caminho.
"Onde você acha que esse rei nascerá?", perguntou Gaspar, o sábio que vinha da Índia, e levava de presente para o pequeno rei, um receptáculo, cheio de precioso incenso, como prova de sua adoração.
"Em algum palácio, no deserto", ponderou Baltazar, que vinha da Arábia, trazendo num vaso de cristal, a perfumada mirra, simbolizando a imortalidade.
"Mas eu já andei tanto por aqui e nunca soube de nenhum palácio nas redondezas", retrucou Melchior, que estava vindo desde a longínqua Pérsia, e trazia de presente para o menino, o mais puro ouro, em homenagem à sua realeza. "Mas, o céu nunca nos enganou antes, então, continuemos a viagem até que a estrela apareça e nos guie ao local secreto".
E assim os Sábios viajaram muito tempo pelo deserto, montados em seus dromedários, em busca do menino rei. À noite, acomodavam-se sobre seus tapetes coloridos, debaixo do céu estrelado, e comiam tâmaras com mel, e nozes. Quando encontravam algum oásis, aproveitavam para deitar-se à sombra das palmeiras, desatrelar os animais, recolher água em seus cantis e refrescar o corpo nas nascentes.
E conversavam... conversavam... cada qual se vangloriando das belezas de seu país, e fazendo conjecturas sobre os reais pais da criança. Seriam nobres hebreus? Seriam romanos?
Finalmente, numa noite de céu sem nuvens, viram brilhar a estrela guia. Sua luminosidade era tão intensa, que desenhava no chão de areia uma estrada de luz.
"Finalmente!" exclamaram em uníssono e puseram-se em marcha. Caminharam a noite inteira, e, já com os primeiros raios da manhã, chegaram a um estábulo. Olharam para o céu... a estrela desaparecera.
De onde então vinha tanta luz?
Aproximaram-se da tosca construção, e lá, deitada numa manjedoura, transformada em berço, estava a criança. E brilhava... e brilhava tanto, que os magos ajoelharam-se para adorá-la. E havia vacas, cães, ovelhas e pastores, e também um pequeno burrinho à sua volta, apaixonados por aquele bebezinho que emitia tanta luz. E, ao seu lado, uma jovem mulher, em trajes muito simples: uma veste branca, de linho, encimada por um manto azul, e um homem de mais idade, apoiado num cajado, amparando-a com o braço livre.
Ninguém pediu explicações. Ninguém emitiu um único som, para não assustar o recém nascido, que, com sorriso aberto no rosto, dormia feliz em meio às palhas e aos panos.
(Ludmila Saharovsky)
Escritora, artista plástica,
mora em Jacareí - SP
Escritora, artista plástica,
mora em Jacareí - SP
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