A coincidência dos fatos aqui
descritos é apenas curiosidade, embora haja a crença de que “o dia-a-dia também
nos conta histórias”. Quem tiver “olhos para ouvir, leia” diria o poeta
surrealista; porém, prefiro acreditar na obra do acaso; a vida já é complicada
o suficiente para que eu tome seu tempo semeando confusão.
Aconteceu em 17 deste dezembro, uma linda
tarde ensolarada de domingo, quando a Academia Jacarehyense de Letras realizou
festa de confraternização. O local foi o recanto paradisíaco do casal Sandra e
Ronald, em Santa Branca, no limite com Jacareí demarcado ali pelo Rio Paraíba
do Sul. Sandra, uma de nossas acadêmicas, ofereceu-nos graciosamente a casa
ribeirinha para o evento. ‘Graciosamente’ é pouco; no 'pacote' vieram bolo,
bolinhos, biscoitos, salgados de forno, quitutes e que tais. Sem falar numa
chopeira exclusiva na qual nos servíamos à vontade.
MOMENTO DE 'JOGAR CONVERSA FORA'
A certa altura, elegemos um
ponto estratégico da ampla varanda em “L”, com vista para o rio, a fim de
trocarmos impressões sobre o local. Depois, a conversa enveredou para outros
temas inspirados na beleza do cenário. O Paraíba ali se desenha bucólico em
suave “S” – coisa linda de se ver. O “L” da varanda e o “S” do rio deram o
toque literário apropriado.
Estávamos em um grupo de oito
escritores. Havia ainda professor, jornalistas e um advogado famoso na região,
Dr. Maurício, respeitado por todos pela reputação profissional, lucidez e
energia que dele emanavam aos 85 anos. Claro que Maurício dominava nossas
atenções até pela vivência que demonstrava nas narrativas tanto jurídicas
quanto da história da cidade. As idades dos demais participantes estavam acima
dos 45, exceto a do jovem Samuel, filho de Salette, de 13 anos.
VELHO MUNDO QUE SE REPETE
Eu havia me retirado da varanda por cerca de
15 minutos e quando retornei tive uma surpresa. Quem conduzia a conversa
naquele momento não era mais o sábio advogado veterano, e sim o menino Samuel
para o qual todos olhavam atentos com admiração e faziam perguntas sobre o que
ele explicava. Inclusive o Dr. Maurício. A todos, Samuel respondia com firmeza
e tranquilidade incomuns para alguém de apenas 13 anos.
O tema da conversa era outro.
Falava-se de jogos eletrônicos para computador, das características e
respectivas tecnologias, assunto, diga-se, 'indiscorrível' para quem já passou
dos 40. Salvou-nos o professor Mário, que durante um bom tempo deu aulas de
Tecnologia da Informação na Univap (Universidade do Vale do Paraíba). Mário foi
nosso mediador improvisado, que também explicou-nos palavras que, para muitos
(nos quais me incluo), soavam estranhas, tipo “cheat, gamers, cutscenes, let’s
play, skin, speedrum”, e tantas outras que ele nos explicava como podia para
que entendêssemos como desse.
CLIMA DE NATAL
Já estávamos em clima de Natal e, talvez por
isso, me veio à mente um dos poucos episódios da Escritura Sagrada que relatam
a infância de Jesus de Nazaré. Está registrado no capítulo 2º do evangelho de
Lucas: Levado pelos pais, José e Maria, que haviam participado da confraternização
da Páscoa em Jerusalém, como era de hábito naquele tempo, o menino Jesus, então
com quase a idade do nosso Samuel, 12 anos, não estava com os demais na
caravana que retornava para Nazaré, já na saída de Jerusalém.
Depois de voltarem para
procurar Jesus, encontraram-no falando aos doutores da Lei, no templo. O menino
respondia a perguntas sobre as Escrituras, de modo semelhante ao que Samuel
explicava, em Santa Branca, 'games eletrônicos' aos doutores de outras leis. E,
igual aos de Jerusalém, os 'doutores' de Jacareí também se admiravam do que
falava o jovem Samuel, 2 mil anos depois no moderno ‘templo de amor fraterno'
disponibilizado aos acadêmicos pelos anfitriões.
Notava-se nas expressões do Dr. Maurício,
Geraldo, Paulo, Mário, Waldir, Cristina, Sandra, Dinamara e outros que estavam
ao redor que algo neles havia mudado; no mínimo o conceito sobre o ‘poder’ que
jovens inteligentes exercem sobre nós adultos sempre que lhes abramos
oportunidades –, melhor dizendo, 'abramos nossos ouvidos', no caso.
QUESTÃO DE TEMPO, TEMA E LUGAR
Você deve estar perguntando "o que tem um
fato a ver com aquele outro?!"
Sem situar cada história no seu devido tempo, espaço e contexto, nada. Porém,
se olharmos para dentro de nós em reflexão, tudo. Naqueles momentos mágicos,
dois habitantes da terra demonstraram o potencial da inteligência humana.
Valeram-se, para isso, da capacidade que todos herdamos do Criador para,
explicar, realizar, criar e usufruir do que melhor nos inspira.
O restante, como o tema, o tempo e o lugar servem para nos dar referencias, mas
é sempre a inteligência humana a que provoca as admirações.
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Em Santa Branca, a exuberância da natureza ao redor emoldurava o cenário para valorizar ainda mais a gentileza com que fomos agraciados por Sandra e o Ronald. Em Jerusalém, a missão do Deus menino foi anunciar para que todos preparassem o melhor de si para o que ainda viria séculos a fora.
Quanto aos temas desenvolvidos pelos protagonistas das histórias, são bons, mas nada mais são que temas que podem a qualquer instante ser superados -- como a maioria o é. Porém, a inteligência que os gera é o que conta. Tanto assim, que hoje (voltemos para Santa Branca), pouco tempo depois, nos lembramos mais das pessoas que ali estavam do que os detalhes dos casos ali discutidos.
Em Santa Branca, a exuberância da natureza ao redor emoldurava o cenário para valorizar ainda mais a gentileza com que fomos agraciados por Sandra e o Ronald. Em Jerusalém, a missão do Deus menino foi anunciar para que todos preparassem o melhor de si para o que ainda viria séculos a fora.
Quanto aos temas desenvolvidos pelos protagonistas das histórias, são bons, mas nada mais são que temas que podem a qualquer instante ser superados -- como a maioria o é. Porém, a inteligência que os gera é o que conta. Tanto assim, que hoje (voltemos para Santa Branca), pouco tempo depois, nos lembramos mais das pessoas que ali estavam do que os detalhes dos casos ali discutidos.
Da varanda em "L" vê-se o rio em uma curva em "S"
Em Santa Branca, Jerusalém ou nos incontáveis pontos de acontecimentos semelhantes que mudaram e continuarão a mudar o mundo; sempre as ações humanas é que potencializam a capacidade criadora e imaginativa da mulher e do homem. São amostras constantes a valorizar o que está dentro de nós desde o primeiro ser humano. Como se fossem lembretes divinos de que somos uma grande força criadora.
Talvez tenhamos vivido naquela confraternização de domingo em Santa Branca não uma, porém várias confraternizações: a da experiência jovem com a madura; a do Novo com o Velho Testamento e tantas outras não aparentes, porém não menos maravilhosas que ainda descobriremos.
Em Santa Branca, Jerusalém ou nos incontáveis pontos de acontecimentos semelhantes que mudaram e continuarão a mudar o mundo; sempre as ações humanas é que potencializam a capacidade criadora e imaginativa da mulher e do homem. São amostras constantes a valorizar o que está dentro de nós desde o primeiro ser humano. Como se fossem lembretes divinos de que somos uma grande força criadora.
Talvez tenhamos vivido naquela confraternização de domingo em Santa Branca não uma, porém várias confraternizações: a da experiência jovem com a madura; a do Novo com o Velho Testamento e tantas outras não aparentes, porém não menos maravilhosas que ainda descobriremos.
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