Também fiquei um tanto chocado, quanto você ficou agora, quando eu soube
do título que meu admirado amigo psicólogo, Plínio Garcia, daria para seu livro
de estreia na literatura jacareiense: O lado positivo da Aids, lançado em 2011,
que hoje me inspirou este artigo.
Imito o título com a intenção de atrair você para a leitura, coisa
que não está fácil conseguir nestes tempos de chuvas de escritos em redes
sociais. O tema que desenvolvo perde longe para o do livro de Plínio, salvo pequenas
semelhanças estruturais. Mas, é motivo de esperança ver que dá para aprender
com surras que a vida nos aplica quando acha que precisamos delas.
Minha comparação, explico, perde para o tema usado pelo psicólogo no
livro principalmente por ele demonstrar que a síndrome Aids, quando encarada de
frente pelo portador do vírus HIV, é controlável. Já a corrupção – nunca ficou
tão claro como nos dias de hoje – mostra-se dura na queda: os envolvidos em
mazelas jamais se considerarem corruptos. Algumas vezes chegam até a gastar
mais do que pilharam para provar não terem agido como as provas e as evidências
mostram a quem quiser ver. Este é o principal obstáculo.
“ALELUIA!”
Em artigo publicado na Folha de
São Paulo, quarta-feira, 27, intitulado Conselhos
sem moral (Ilustrada pág. C8), o colunista Marcelo Coelho comenta estatística
editorial da Amazon brasileira. Segundo os números mostram, o livro Como fazer amigos e influenciar pessoas,
do escritor norte-americano Dale Carnegie (1888-1955), publicado em 1937, foi o
livro mais vendido de 2017, só pela Amazon – somando impresso e digital –, o
que deixa para trás, com tremenda folga, medalhões como Dan Brown, John Grisham
e Paulo Coelho.
^^^Marcelo Coelho, colunista da Folha de São Paulo
^^^Marcelo Coelho, colunista da Folha de São Paulo
Por causa dessa façanha, a Folha
deu a ela quase metade da última página do caderno Ilustrada, – espaço considerado nobre pelas editorias de jornal. E
isto, por si só, é tido como outra façanha, porque o jornal dificilmente abre
espaço para um livro de psicologia aplicada como o assunto era classificado na época (anos mais tarde foi apelidado de “autoajuda”).
Articulistas e críticos do jornal, em sua quase totalidade, sempre torceram o
nariz só de ouvir a menção tanto aos títulos desse gênero quanto à classificação
sistemática das obras, a tal autoajuda.
Sinal dos tempos. Para você ter uma ideia, em 2007, Como fazer amigos e influenciar pessoas já estava na 51ª edição e havia
vendido mais de 50 milhões de exemplares pelo mundo. A estatística da Amazon,
dez anos depois, ao mostrar o desempenho editorial do livro foi decisiva para
amenizar a aparente birra da Folha para com livros de autoajuda. Tanto que abriu cinco grandes colunas para Marcelo Coelho (com ilustração de Lulli Penna) falar de uma obra
escrita há exatos 80 anos e que ainda é show de bola.
^^^Um dos livros mais vendidos no mundo
^^^Um dos livros mais vendidos no mundo
Alvíssaras! exclamaria um jornalista de 1937, época em que saiu a
primeira edição do livro, exclamação que aplaude uma boa notícia publicada e
pede um prêmio para ela (dicionário
Priberam da língua portuguesa). Prêmios, no caso, já entregues, pois se somarmos os quase
100 milhões de exemplares do livro vendidos até hoje; a Marcelo Coelho ter lido a
obra (mesmo que tenha sido só para comentá-la) e a Folha ter aberto o espaço Dale Carnegie pode descansar em paz que já foi consolidadamente reconhecido.
MAS, E A CORRUPÇÃO?!
Assim como o livro do meu amigo Plínio registra que a Aids tem seu lado
positivo quanto à meta da transformação humana (entre a
população doente e a não infectada) com a mudança de hábitos, conceitos e visão sociais), a
corrupção tem seu lado positivo. Isto quando (e se) aprendermos que a sociedade não pode
descuidar um minuto dos comportamentos e ações de seus governantes. Nunca. Sempre quando nos mostrar o quanto
erramos ao assinar, às vezes por pura negligência, verdadeiros cheques em branco para cidadãos que nos prometem
mundos e fundos e nos esquecem já no dia seguinte em que os elegemos.
O livro de Dale Carnegie tem, de fato, mudado a vida de muita gente
nestes exatos 80 anos de sua primeira publicação, mas tem também gerado muita
polêmica sincera, caluniosa ou de preconceito. Preconceituosa quando considera os preceitos ensinados por ele como sendo, no mínimo matéria de uma “escola de
hipocrisia”, o que é injusto.
Não dá para ver hipocrisia em aconselhar você a interessar-se com
sinceridade pelas pessoas com quem se relaciona, a ouvir atentamente o que elas dizem e a não
magoá-las de modo nenhum a começar por críticas desnecessárias, enfim, não espantar as abelhas se quiser
colher mel. Cito apenas quatro dicas das dezenas que Carnegie ensina e as exemplifica à exaustão.
UMA PENA
Tais preceitos podem ser mal interpretados ou tornarem-se perigosos se aplicados por alguém
de inteligência torta voltada para o mal. É um risco que corremos sempre em quaisquer situações do cotidiano, porém que não invalida o esforço quase doutrinário do autor. Dale Carnegie
estava empenhado no início do século
passado em transformar para melhor o relacionamento entre milhões de pessoas machucadas por incertezas de todos os tipos. Lembre-se
que estávamos às vésperas da Segunda Guerra Mundial e o mundo mostrava-se como
nunca um lugar difícil e perigoso para se viver.
Carnegie previu isso e colocou-se a campo. Percebe-se logo na introdução do livro pela maneira
segura e quase impositiva que ele encarou a empreitada. Porém, como nada é perfeito, no caso da
corrupção, ele talvez tenha cometido um engano técnico considerável ao
distribuir as matérias nas cerca de 300 páginas de Como fazer amigos e influenciar pessoas: apresentou um de seus conceitos básicos que muito contribuiria no lidar com os corruptos (embora isto não esteja mencionado objetivamente no texto), logo nas 15 páginas iniciais
do livro.
Nesse primeiro momento, o leitor ainda não está preparado para receber os novos 'modelos de ser' para que mude seu comportamento de forma (às vezes) radical. E trata-se de um conceito muito simples, porém, como em muitos de nós pode significar mudança de um comportamento quase sempre enraizado por anos e anos, um preceito tão simples transforma-se quase em sacrifício.
Para mim, o livro deveria começar na parte II e depois continuar pelas partes I, III etc. Prepararia mais o leitor interessado numa compensadora e nova forma de viver. Uma pena.
Nesse primeiro momento, o leitor ainda não está preparado para receber os novos 'modelos de ser' para que mude seu comportamento de forma (às vezes) radical. E trata-se de um conceito muito simples, porém, como em muitos de nós pode significar mudança de um comportamento quase sempre enraizado por anos e anos, um preceito tão simples transforma-se quase em sacrifício.
Para mim, o livro deveria começar na parte II e depois continuar pelas partes I, III etc. Prepararia mais o leitor interessado numa compensadora e nova forma de viver. Uma pena.
Contato: bvelosomc@gmail.com
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