— “Como está?” — disse Sherlock Holmes cordialmente ao ser
apresentado ao Dr. Watson pelo amigo comum Stamford — “Vejo que andou pelo
Afeganistão”, completou Holmes que nunca antes havia visto o médico nem nunca
soube da sua existência. Dias mais tarde o detetive explicou a “adivinhação” ao
intrigado agora amigo (os dois passaram a morar juntos no famoso endereço da
Baker Street, 221B, em Londres). Tratava-se de mais um ato de “Ciência da
dedução” praticado pelo mais famoso detetive londrino.
Holmes afirmava categoricamente que um homem observador pode
penetrar nos mais íntimos pensamentos de outra pessoa. Bastava para isso um
exame preciso de uma expressão momentânea, da contração
de um músculo ou uma olhadela do interlocutor. “A partir de uma gota d’água”, explicou,
um praticante da ciência da dedução, como ele, “pode inferir a possibilidade de
um Oceano Atlântico ou das cataratas do Niágara, sem ter visto ou ouvido falar
de qualquer dos dois.
Assim,
revelou porque adivinhara, quando o viu pela primeira vez, que Watson tinha
estado no Afeganistão: “Veio-me
à mente que ali estava um homem com jeito de médico, mas com ar de militar.
Claramente um médico do Exército, portanto ele acaba de chegar dos trópicos,
pois seu rosto está escuro e essa não é a tonalidade natural de sua face, pois
seus punhos são claros. Ele passou por penúrias e doenças, como seu rosto
abatido revela sem dúvidas. Foi ferido no braço esquerdo, pois o mantém numa posição
rígida e pouco natural. Onde nos trópicos um médico do Exército poderia ter
encontrado tantas privações e sido ferido no braço? Claramente no Afeganistão.
Todo o encadeamento de ideias não demandou um segundo. Comentei então que você
vinha do Afeganistão e o deixei pasmo”, completou.
Por
que relembrei essa passagem do livro “Um estudo em vermelho”, do escritor
Arthur Conan Doyle, quando ele relata o primeiro encontro de Sherlock Holmes
com o Doutor Watson? Porque tive a oportunidade de conhecer dias atrás a maneira sherlockiana de apreciar arte pela “Ciência da dedução”,
praticada no livro pelo detetive e quero passá-la para você em tom de desafio.
Consiste no seguinte:
Faça uma análise do quadro que ilustra esta matéria - - de
Almeida Júnior à maneira sherlockiana e mande para o e-mail desafio350@gmail.com (copie daqui e cole no e-mail), pode ser como
anexo ou no corpo do próprio e-mail e que tenha no máximo 350 palavras. Os
melhores eu vou publicando neste blog na medida em que vão chegando. Depois de certo
tempo, marcamos a data do encerramento. O campeão terá a análise publicada no
blog e num jornal impresso de Jacareí. Pode ser uma análise séria ou em tom
jocoso, desde que seja criativa e de bom gosto. Vai encarar? Comece, então a escrever.
Para esquentar e servir de exemplo, segue abaixo uma análise
semelhante à proposta feita do quadro “Caipira picando fumo”, do mesmo Almeida
Júnior. Mãos à obra.
A luz incidente, quase a pino, retratada na composição, sugere o horário entre 11 e 13 horas. O caipira picando fumo, ritual demorado, reforça a chance de que já tenha almoçado.
A temperatura está de amena para fria. Veja as mangas compridas e uma segunda calça vestida por baixo. A camisa aberta ao peito, talvez,para refrescar àquela hora de sol mais forte. Provavelmente ele tenha enfrentado em pasto fechado para pegar algum animal de abate. Nota-se as partes inferiores das calças e as pontas das mangas da camisa manchadas de um vermelho que pode ser sangue do animal abatido. Essa probabilidade é reforçada pelo tamanho desproporcional da faca usada para picar fumo.
A temperatura está de amena para fria. Veja as mangas compridas e uma segunda calça vestida por baixo. A camisa aberta ao peito, talvez,para refrescar àquela hora de sol mais forte. Provavelmente ele tenha enfrentado em pasto fechado para pegar algum animal de abate. Nota-se as partes inferiores das calças e as pontas das mangas da camisa manchadas de um vermelho que pode ser sangue do animal abatido. Essa probabilidade é reforçada pelo tamanho desproporcional da faca usada para picar fumo.
O personagem vive só. Parece viúvo ou separado da mulher
por iniciativa dela. Isso explicaria o ar meio tristonho e pensativo na
fisionomia dele. Tal possibilidade é reforçada pelo total desleixo tanto para
com ele e pela conservação da casa de pau a pique. Na moradia,parte do reboco está caída ou é inexistente e o barro aparente denuncia o tempo em que a situação está assim. Mulher nenhuma deixaria as
coisas permanecerem desse jeito sem tomar uma providência de reparo.
Veja a escada. Ela é formada
por pedaços grandes de tronco de árvore cortados aleatoriamente em tamanhos
disformes e com acabamento suficiente apenas para que alguém passe por cima
deles. Vê-se que o degrau menor está quase no nível do segundo. É um perigo
descer por uma escada desse tipo. E o homem bebe. Essa ponta de nariz mais
avermelhada e as pálpebras “pesadas” denunciam a bebida.
O restante segue sem qualquer alinhamento. Esses madeiros
estão escorados sem nenhum critério por troncos menores. Há dois buracos
grandes, um na parede outro ao lado da escada cujo reparo teria sido fácil já
que a matéria prima é terra misturada com água. Não há indícios de que venta.
Então, as palhas de milho secas, para fazer cigarros, espalhadas pelo chão à
volta do caipira é displicência mesmo, reforçada pela porta da casa semiaberta.
(340 palavras)
(340 palavras)
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