terça-feira, 31 de maio de 2016

Maneira sherlockiana de apreciar arte. Participe


Moça com livro, de Almeida Júnior (clique na imagem para aumentá-la)


— “Como está?” — disse Sherlock Holmes cordialmente ao ser apresentado ao Dr. Watson pelo amigo comum Stamford — “Vejo que andou pelo Afeganistão”, completou Holmes que nunca antes havia visto o médico nem nunca soube da sua existência. Dias mais tarde o detetive explicou a “adivinhação” ao intrigado agora amigo (os dois passaram a morar juntos no famoso endereço da Baker Street, 221B, em Londres). Tratava-se de mais um ato de “Ciência da dedução” praticado pelo mais famoso detetive londrino.

Holmes afirmava categoricamente que um homem observador pode penetrar nos mais íntimos pensamentos de outra pessoa. Bastava para isso um exame preciso de uma expressão momentânea, da contração de um músculo ou uma olhadela do interlocutor. “A partir de uma gota d’água”, explicou, um praticante da ciência da dedução, como ele, “pode inferir a possibilidade de um Oceano Atlântico ou das cataratas do Niágara, sem ter visto ou ouvido falar de qualquer dos dois.

Assim, revelou porque adivinhara, quando o viu pela primeira vez, que Watson tinha estado no Afeganistão: Veio-me à mente que ali estava um homem com jeito de médico, mas com ar de militar. Claramente um médico do Exército, portanto ele acaba de chegar dos trópicos, pois seu rosto está escuro e essa não é a tonalidade natural de sua face, pois seus punhos são claros. Ele passou por penúrias e doenças, como seu rosto abatido revela sem dúvidas. Foi ferido no braço esquerdo, pois o mantém numa posição rígida e pouco natural. Onde nos trópicos um médico do Exército poderia ter encontrado tantas privações e sido ferido no braço? Claramente no Afeganistão. Todo o encadeamento de ideias não demandou um segundo. Comentei então que você vinha do Afeganistão e o deixei pasmo”, completou.

Por que relembrei essa passagem do livro “Um estudo em vermelho”, do escritor Arthur Conan Doyle, quando ele relata o primeiro encontro de Sherlock Holmes com o Doutor Watson? Porque tive a oportunidade de conhecer dias atrás a maneira sherlockiana de apreciar arte pela “Ciência da dedução”, praticada no livro pelo detetive e quero passá-la para você em tom de desafio. Consiste no seguinte:
Faça uma análise do quadro que ilustra esta matéria - - de Almeida Júnior à maneira sherlockiana e mande para o e-mail desafio350@gmail.com (copie daqui e cole no e-mail), pode ser como anexo ou no corpo do próprio e-mail e que tenha no máximo 350 palavras. Os melhores eu vou publicando neste blog na medida em que vão chegando. Depois de certo tempo, marcamos a data do encerramento. O campeão terá a análise publicada no blog e num jornal impresso de Jacareí. Pode ser uma análise séria ou em tom jocoso, desde que seja criativa e de bom gosto. Vai encarar? Comece, então a escrever.


Para esquentar e servir de exemplo, segue abaixo uma análise semelhante à proposta feita do quadro “Caipira picando fumo”, do mesmo Almeida Júnior. Mãos à obra.

 A luz incidente, quase a pino, retratada na composição, sugere o horário entre 11 e 13 horas. O caipira picando fumo, ritual demorado, reforça a chance de que já tenha almoçado. 
A temperatura está de amena para fria. Veja as mangas compridas e uma segunda calça vestida por baixo. A camisa aberta ao peito, talvez,para refrescar àquela hora de sol mais forte. Provavelmente ele tenha enfrentado em pasto fechado para pegar algum animal de abate. Nota-se as partes inferiores das calças e as pontas das mangas da camisa manchadas de um vermelho que pode ser sangue do animal abatido. Essa probabilidade é reforçada pelo tamanho desproporcional da faca usada para picar fumo. 
O personagem vive só. Parece viúvo ou separado da mulher por iniciativa dela. Isso explicaria o ar meio tristonho e pensativo na fisionomia dele. Tal possibilidade é reforçada pelo total desleixo tanto para com ele e pela conservação da casa de pau a pique. Na moradia,parte do reboco está caída ou é inexistente e o barro aparente denuncia o tempo em que a situação está assim. Mulher nenhuma deixaria as coisas permanecerem desse jeito sem tomar uma providência de reparo.
Veja a escada. Ela é formada por pedaços grandes de tronco de árvore cortados aleatoriamente em tamanhos disformes e com acabamento suficiente apenas para que alguém passe por cima deles. Vê-se que o degrau menor está quase no nível do segundo. É um perigo descer por uma escada desse tipo. E o homem bebe. Essa ponta de nariz mais avermelhada e as pálpebras “pesadas” denunciam a bebida.
O restante segue sem qualquer alinhamento. Esses madeiros estão escorados sem nenhum critério por troncos menores. Há dois buracos grandes, um na parede outro ao lado da escada cujo reparo teria sido fácil já que a matéria prima é terra misturada com água. Não há indícios de que venta. Então, as palhas de milho secas, para fazer cigarros, espalhadas pelo chão à volta do caipira é displicência mesmo, reforçada pela porta da casa semiaberta.
(340 palavras)

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