“Falem aos acadêmicos que venham na próxima quinta-feira, pois já
decorei a fala, ensaiei os gestos, preparei projeção em data show,
mandei deixar chávenas para o chá, biscoito Trakinas, e tudo está pronto.” Mas
os acadêmicos ao serem contatados não deram a menor atenção; uns foram ao
cinema, outros permaneceram a 30 quilômetros em outra cidade, alguns foram
jogar truco, um grupo foi cuidar de seus negócios e outros ainda praguejaram
contra os assessores e os mataram de vergonha.
Indignado, o presidente foi à porta da academia e gritou para a
rua: “Não vai ter golpe”! Em seguida falou a seus assessores: “A palestra da
Lygia está mais que pronta, mas os convidados não a mereceram. Portanto vão até
as encruzilhadas do caminho e reúnam para o evento todos os que vocês
encontrarem, interessados ou não.” Então os auxiliares saíram pelas ruas
iluminadas ou escuras, calçadas revitalizadas, boas ou esburacadas e reuniram todos os que
encontraram: alunos de escolas do ensino fundamental, escritores ainda
desconhecidos, professores amigos de acadêmicos assíduos, e a sala da academia ficou
cheia como ainda não havia acontecido este ano. O presidente ao ver a sala
cheia disse feliz: “Agora vai ser assim. Quem não cumprir o estatuto ficará
sentado à porta da academia no frio da noite impedido de entrar. Ali haverá
choro e ranger de dentes”.
Entusiasmado, marcou outro encontro para a quinta-feira seguinte
quando viria de quebra um editor famoso para dicas de como publicar um
livro. O grupo que veio das ruas foi convidado a participar novamente, agora sem
necessidade sair a caçá-lo.
Dessa vez, entretanto, só os acadêmicos vieram. O grupo que salvou
a reunião na primeira vez evaporou-se. E o presidente ensinou que há pessoas
que passam pela nossa vida para resolver
uma crise e, talvez, até para atender a um pedido de socorro. Depois, saem de
cena. Só servem para aquele momento. Entender isso é ser feliz.
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