– Seu Manoel, essa é minha esposa; ela não engravida. O
que o senhor tem aí pra remediar isso?
– Nada, meu filho. Nada do que tenho aqui resolve o problema. Não
posso fazer nada.
– Pode sim, seu Manoel. Eu sei que o senhor pode.
– Posso não. Levem esta mistura de ervas pra fazer chá. É bom
para tirar a ansiedade que ela deve sentir pelo que está passando...
Aos 94 anos, completados em novembro passado, essa é a rotina que há 20 anos faz parte do cotidiano de Manoel Alves Coutinho, português
de Vila Nova de Gaia, área metropolitana do Porto, há 90 anos morando em
Jacareí onde cultiva uma pequena chácara de ervas medicinais.
Na vida ele fez muita coisa. Trabalhou na roça até os 25 anos,
em seguida, durante muito tempo, foi empregado na indústria Lavalpa (Lanifício Vale do Paraíba) que tem sede em Jacareí, e um dia aposentou-se na fábrica de pisos Fademac,
também em Jacareí. Depois, lá mesmo comprou três lotes de terreno no bairro
Cidade Salvador por ter sentido um forte impulso por cultivar ervas
medicinais. Acha que foi um chamado. O importante é que ele fez a escolha certa. Tanto, que um espaço de três meses foi
o suficiente para seu Manoel tornar-se conhecido no ramo fitoterápico. Virou
celebridade em jornais, rádio, televisão e nunca mais parou de ser
procurado para vender os produtos que até hoje planta e colhe na propriedade.
– Alô! Seu Manoel?! Sabe quem está falando?
– Não, quem é?!
– Quatro meses atrás estive aí com meu marido. Não conseguia
engravidar...
– Ah! Agora sim, me lembro!
– Pois é! Deu certo aquilo que o senhor me vendeu. “Estou de
três meses”!
2
As coisas sempre dão certo naquele pequeno paraíso em Jacareí, reservado ao culto à
natureza. Seu Manoel diz – e garante – que não sabe explicar o
porquê das tantas histórias de casos resolvidos por seu intermédio. Mas a gente
desconfia. Ele consegue manter um ambiente que desperta forças
positivas, as quais, por tabela, devem influenciar quem a ele
recorre. Já na entrada da pequena chácara é muito agradável
sentir os perfumes das ervas ali cultivadas, em odores que parecem
vir ao nosso encontro em disputa para nos conquistar pelo olfato.
Aleatoriamente, ora percebemos a camomila, em outro momento a
hortelã, depois o manjericão, as cidreiras, dali a pouco a malva...
É impossível discriminar tudo. Há surpresas, como a menta de um odor contagiante
que a gente não quer parar de curtir; a tomilho, dentre outras que
no máximo conhecemos pelos temperos em que também são usadas. Estas ervas revelam outra
qualidade odorífera no canteiro do seu Manoel. Indiscutivelmente, sentimos estar em local da cidade onde se respira melhor. São cerca de mil
metros quadrados de ar suavemente perfumado.
– Bom dia, seu Manoel. O senhor se lembra de mim?
– Sim. Já esteve aqui com um rapaz. Seu marido, não?
– Isso. Não engravidava... agora estou de três meses...
– É! Você me ligou semana passada, não foi?
– Foi. Hoje eu trouxe minha amiga, aqui. Ela está com o mesmo
problema.
– Mas, eu já disse: não posso fazer nada!
– Pode sim. Eu sei que o senhor pode. E o senhor também sabe que
pode!
A todo instante chega gente à procura de plantas, mais para aliviar
as dores que para se prevenir contra as causas que as provoca, diz seu
Manoel. “O melhor seria não deixar o mal se manifestar”,
lamenta. Ele se vale o tempo todo das centenas de produtos que
cultiva. Hoje aos 94 anos, de uma lucidez e memória de curto
prazo de fazer inveja, seu Manoel conta que faz uso de tudo que cultiva. “Não sei
quando nem que doença poderá vir”, justifica.
Muitos acham que os melhores remédios que ele tem no seu canteiro
são o próprio cultivar as plantas e o amor que tem por elas. Talvez
seja uma mistura de tudo e, de lambujem, a gratidão dos
frequentadores. Verdade é que aquele ambiente desperta-nos a vontade
de usufruir a vida de boa qualidade que ele procura viver.
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