sexta-feira, 29 de julho de 2016

Seu Manoel das Ervas


– Seu Manoel, essa é minha esposa; ela não engravida. O que o senhor tem aí pra remediar isso?
– Nada, meu filho. Nada do que tenho aqui resolve o problema. Não posso fazer nada.
– Pode sim, seu Manoel. Eu sei que o senhor pode.
– Posso não. Levem esta mistura de ervas pra fazer chá. É bom para tirar a ansiedade que ela deve sentir pelo que está passando...

Aos 94 anos, completados em novembro passado, essa é a rotina que há 20 anos faz parte do cotidiano de Manoel Alves Coutinho, português de Vila Nova de Gaia, área metropolitana do Porto, há 90 anos morando em Jacareí onde cultiva uma pequena chácara de ervas medicinais.
Na vida ele fez muita coisa. Trabalhou na roça até os 25 anos, em seguida, durante muito tempo, foi empregado na indústria Lavalpa (Lanifício Vale do Paraíba) que tem sede em Jacareí,  e um dia aposentou-se na fábrica de pisos Fademac, também em Jacareí. Depois, lá mesmo comprou três lotes de terreno no bairro Cidade Salvador por ter sentido um forte impulso por cultivar ervas medicinais. Acha que foi um chamado. O importante é que ele fez a escolha certa. Tanto, que um espaço de três meses foi o suficiente para seu Manoel tornar-se conhecido no ramo fitoterápico. Virou celebridade em jornais, rádio, televisão e nunca mais parou de ser procurado para vender os produtos que até hoje planta e colhe na propriedade.

– Alô! Seu Manoel?! Sabe quem está falando?
– Não, quem é?!
– Quatro meses atrás estive aí com meu marido. Não conseguia engravidar...
– Ah! Agora sim, me lembro!
– Pois é! Deu certo aquilo que o senhor me vendeu. “Estou de três meses”!

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As coisas sempre dão certo naquele pequeno paraíso em Jacareí, reservado ao culto à natureza. Seu Manoel diz – e garante – que não sabe explicar o porquê das tantas histórias de casos resolvidos por seu intermédio. Mas a gente desconfia. Ele consegue manter um ambiente que desperta forças positivas, as quais, por tabela, devem influenciar quem a ele recorre. Já na entrada da pequena chácara é muito agradável sentir os perfumes das ervas ali cultivadas, em odores que parecem vir ao nosso encontro em disputa para nos conquistar pelo olfato. Aleatoriamente, ora percebemos a camomila, em outro momento a hortelã, depois o manjericão, as cidreiras, dali a pouco a malva... É impossível discriminar tudo. Há surpresas, como a menta de um odor contagiante que a gente não quer parar de curtir; a tomilho, dentre outras que no máximo conhecemos pelos temperos em que também são usadas. Estas ervas revelam outra qualidade odorífera no canteiro do seu Manoel. Indiscutivelmente, sentimos estar em local da cidade onde se respira melhor. São cerca de mil metros quadrados de ar suavemente perfumado.


– Bom dia, seu Manoel. O senhor se lembra de mim?
– Sim. Já esteve aqui com um rapaz. Seu marido, não?
– Isso. Não engravidava... agora estou de três meses...
– É! Você me ligou semana passada, não foi?
– Foi. Hoje eu trouxe minha amiga, aqui. Ela está com o mesmo problema.
– Mas, eu já disse: não posso fazer nada!
– Pode sim. Eu sei que o senhor pode. E o senhor também sabe que pode!

A todo instante chega gente à procura de plantas, mais para aliviar as dores que para se prevenir contra as causas que as provoca, diz seu Manoel. “O melhor seria não deixar o mal se manifestar”, lamenta. Ele se vale o tempo todo das centenas de produtos que cultiva. Hoje aos 94 anos, de uma lucidez e memória de curto prazo de fazer inveja, seu Manoel conta que faz uso de tudo que cultiva. “Não sei quando nem que doença poderá vir”, justifica.
Muitos acham que os melhores remédios que ele tem no seu canteiro são o próprio cultivar as plantas e o amor que tem por elas. Talvez seja uma mistura de tudo e, de lambujem, a gratidão dos frequentadores. Verdade é que aquele ambiente desperta-nos a vontade de usufruir a vida de boa qualidade que ele procura viver.

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