Se esta fosse uma página de jornal ligado à religião caberiam aqui
citações bíblicas para comentar o momento brasileiro: “Antes da ruína vem o
orgulho e antes da queda, a presunção (Provérbios 16,18)”. Outra, seria: “tudo
o que está escondido tornar-se-á manifesto. E tudo o que está em segredo deverá
ser descoberto (Marcos 4,22)”. Mas, como somos um jornal leigo, vamos entender
o Brasil que vivenciamos de maneira laica.
As coisas poderiam estar a passos comportados se o empresário
Joesley Batista, não tivesse cometido atos de orgulho e presunção ao cantar de
galo, como se viu naquele célebre telefonema com Ricardo Said, executivo do seu grupo empresarial: “Nóis não vai preso” gabou-se ele em certo trecho da conversa grampeada que o Brasil
inteiro fartou-se de ouvir. “Na escola que você estuda eu já sou diplomado”, jactou-se
Joesley em outro trecho do telefonema, referindo-se ao que diria ao então
procurador geral da república, Rodrigo Janot, se conseguisse conversar com ele
como disse que pretendia.
Interessante é que a Bíblia além de prever fatos deixa
margem para a tradução brasileira passar recados com bom humor como, no caso da
citação acima, encaixar muito bem o uso da mesóclise (tornar-se-á), muito oportuna
em se tratando de comentar as denúncias contra o presidente “mesocleiro” Michel
Temer, que a usa sempre.
Da Praça dos Três Poderes em Brasília à Praça dos Três Poderes de Jacareí,
simultaneamente as advertências celestes se fizeram sentir nestes tempos. Por aqui,
com a CPI da Pro Lar, que ouviu novamente duas testemunhas-chaves para fechar o
inquérito do primeiro tropeço criminalizado neste século na administração municipal.
De novo, todas as flechas do bambuzal dirigiram-se, como prevíramos, ao diretor
administrativo Christian Antunes (matéria nesta edição).
Nem mesmo faltou o simbolismo embutido no ato denunciado: suposta
limpeza de áreas da Fundação Pró Lar que não foram limpas. Espera-se que a
similaridade com textos proverbiais continue nos julgamentos e tanto por aqui
como em Brasília cumpra-se o ensinamento de que “há um profeta nos lábios do
bom juiz e sua boca não erra na sentença”. Mas, como foi dito no início, esta não é uma página de jornal ligada à religião – na verdade, nem os textos bíblicos o são.
É a nossa opinião.