sexta-feira, 1 de janeiro de 2016


A informática dos seres humanos

Há algum tempo um sujeito tentou me explicar a origem humana por meio de alguns conceitos da informática. Ele era profissional da área de programação e puxou a brasa para a própria sardinha. Dizia ele, em resumo, que Deus ao fazer o homem introduziu no cérebro dele uma espécie de chip onde estão todas as informações necessárias à solução de grandes e pequenos problemas existenciais. Basta saber acessar essas informações o que, parece, a maioria ainda não descobrimos como.

Não que ele entendesse ter sido a raça humana fruto da informática ou coisa parecida. Ele a usava o argumento para tentar explicar como nós funcionamos e, para isso, fazia um paralelo com as descobertas da área em que atuava. Todos os seres nascem -- dizia ele -- com essas programações na "memória" e na medida em que vivem e se desenvolvem vão descobrindo, uns mais rápidamente outros menos, como usar o maravilhoso programa. A oração, exemplificava, seria uma forma de direcionar energias do pensamento para essa reserva psiquica do cérebro e trabalhar um possível "milagre". Dizia ainda meu amigo que recebemos do Criador, de tempos em tempos, "atualizações do nosso programa", exatamente como fazem os fabricantes de softwares, mas isto já é sofisticação que só vai complicar o assunto se continuarmos nele.

Sexta-feira, 1, o jornal Folha de São Paulo publicou na sessão Ciência uma experiência realizada com formigas na Universidade da Pensilvânia (EUA) segundo a qual pesquisadores, liderados pela cientista Shelley Berger, conseguiram mudar o comportamento de formigas da mesma espécie sem alterar-lhes em nada o DNA. Sempre foi uma incognita para os estudiosos o fato de numa espécie de formiga em que todas possuem os mesmos genes existam grupos de comportamentos tão diversificados. Uma é a rainha, outras são operárias e inférteis e que só vivem a buscar alimentos, outras são as guardiãs, mais fortes, e que não buscam alimentos, etc.

A experiência em questão mostrou que certas drogas modificaram o comportamento das formigas sem alterar-lhes os genes. Ou seja, fatores externos influenciam o íntimo do ser vivo a ponto de mudar-lhes radicalmente o caráter sem qualquer alteração no DNA. As guardiãs passavam a procurar alimentos e não mais zelavam pela segurança do formigueiro; as operárias faziam o papel das guardiãs. Aí eu me lembrei do amigo Márcio (era esse o nome dele), fanático por informática que dizia, com outras palavras, que certas atitudes humanas podem mudar "a programação" das pessoas e o caráter só pode ser mudado com força de vontade.

A experiência da Universidade da Pensilvânia mostrou que droga interfere na parte chamada "epigenética", um grupo de moléculas que está no organismo do ser vivo e é capaz de alterar seu comportamento sem alterar-lhe a estrutura genética. Uma única dose da droga muda o comportamento das formigas por 50 dias. Outro pesquisador afirma que o mesmo resultado se obtém em outros insetos que vivem em colônicas sociais como abelhas e cupins, que passam a trocar tarefas e tornam-se reprodutivas se não eram etc. Por que não se pode alterar as ações de grupos de seres humanos? É o que a experiência procura respoder. Para o meu amigo Márcio já está há muito respondido.

Nenhum comentário: