Houve
uma pequena confusão na chegada dos convidados porque os veículos que se
dirigiam ao evento estavam sendo direcionados para o portão 2, quase nunca usado, para não tumultuar o acesso comum ao hospital. Só funcionários
e médicos conheciam o tal portão alternativo, até porque ele ficava de certa forma
escondido em rua lateral de pouca visibilidade. Na hora que chegava, o convidado era educadamente
barrado na entrada principal, a mais conhecida, e informado de que, para tanto, deveria dar meia
volta pelo quarteirão para acessar a entrada correta. Isso não deixou de causar um certo tumulto no local.
Uma
das autoridades, um conhecido promotor de Justiça da cidade, chegava dirigindo
o próprio carro quando viu o pequeno congestionamento formado pela situação. Sem saber do que se
tratava, resolveu deixar o carro ali mesmo na rua, a certa distância do portão
tumultuado, e seguir a pé até ele. Ao chegar lá, foi informado de que deveria ir ao portão 2, como todo mundo. A
autoridade ficou por uns momentos indecisa se deixava ou não o carro onde havia estacionado minutos antes e entrava a pé, quando o prefeito da vizinha Santa Branca, que já havia sido orientado corretamente, ao vê-lo ofereceu-lhe a pequena carona até o portão certo. Ele aceitou.
Por
causa do calor, o prefeito de Santa Branca, que dirigia o carro oficial (ele era famoso por quase sempre dispensar motorista) estava de camisa-esporte, obviamente
sem paletó, embora alinhadamente trajado. O promotor-carona, ao contrário, mantinha
o protocolo e permanecia de paletó e gravata como o cargo e a sociedade à época
lhe impunham em momentos como aquele. Aconteceu, claro, o que você já deve
estar imaginando.
Ao
chegarem ao portão 2, um dos recepcionistas, ao ver o carro com placa de prefeitura, dirigiu-se a quem? Ao carona de terno e gravata e disse-lhe, cerimoniosamente,
apontando para a tenda de recepção armada no pátio do estacionamento: “Senhor
Prefeito, o evento será ali, e depois que o ‘motorista’ deixar o senhor ele
pode estacionar o carro logo mais à frente”, informou, olhando para o verdadeiro prefeito
em mangas de camisa, para ver se ele havia entendido o recado. Sim, havia
entendido “os recados” . E você também,
tenho certeza.
O
sociólogo canadense Marshall McLuhan definiu que “o meio é a mensagem”,
referindo-se aos meios de comunicação e a influência deles na sociedade. Não
disse, mas, provavelmente teria dito se soubesse desse caso: “o traje também é um
forte meio de comunicação”.
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