sábado, 6 de janeiro de 2018

HAIKAI "DOS MANO"


Para quem não conhece, Haikai é um poema de origem japonesa adaptada no Brasil em sua forma acadêmica pelo poeta Guilherme de Almeida.

Considerado um excelente exercício para sintetizar ideias e desenvolver a criação de pequenos textos com grandes significados, o Haikai brasileiro tem o formato:

Três versos com um total de 17 sílabas distribuídas assim:
_  _  _  _  _             ou seja, 5 sílabas no primeiro verso;
_  _  _  _  _  _     ou seja, 7 sílabas no segundo verso
_  _  _  _  _             novamente 5 sílabas, no último verso.

Existem, ainda, 4 sílabas que devem ter rimas entre si:

01  02  03  04  05
06  07  08  09  10  11  12
13  14  15  16  17

a sílaba 05 deve rimar com a sílaba 17 e
a sílaba 07 deve rimar com a sílaba 12.

Lembre-se de que ao final de cada verso, para efeito de contagem, são lconsideradas apenas as sílabas tônicas (aquela que é acentuada, levando ou não acento gráfico), as chamadas "sílabas poéticas".
Por exemplo:

Veja  o  prefeito (A quinta sílaba é fei; o to não conta):
Põe fé: pré-feito, não é
Nem mesmo perfeito (A quinta sílaba é fei; o to não conta).

Agora, leia o Haikai dos mano, sem ajuda das cores nem dos números:


Pra saí co a "mina",

Ó mano, tô "precisano"

"Ganhá" na quina.





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MORAL DA COISA:


Com pouco de prática Você passa a crer:
Versos e matemática. Têm tudo a ver!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Esquecidos domésticos, uni-vos!


Atravessou a área de serviço e veio em minha direção de cara fechada tão logo tirou a última peça de roupa da máquina de lavar. Alzira exibia na mão uma pequena moeda prateada de 50 centavos e esforçava-se para que o objeto não ficasse encoberto pela montanha de roupa umedecida que ela transportava ao mesmo tempo.

– O senhor deixou outra vez moeda no bolso da calça jeans, que ficou entalada no batedor da máquina, seu Veloso; qualquer hora vai travar tudo – disse Alzira com aquela autoridade profissional que os mais de dez anos como diarista na minha casa lhe permitem.

– Está bem, me desculpe, vou tomar mais cuidado – disse-lhe eu sem esconder o desconforto de ser flagrado em mais um dos crimes domésticos que estão sendo cada vez mais praticados por mim de uns tempos para cá.

Depois de sentir o efeito que me causou sua descoberta, Alzira mudou a voz para uma tonalidade mais maternal:

– Sabe, né? Por mim tudo bem; é que não fica nada barato ter de consertar a máquina, caso ela se quebre.  E quem vai gastar dinheiro com o conserto é o senhor mesmo, não é?  disse, e voltou a carregar na voz para completar: se bem que a máquina parada vai atrapalhar toda minha programação de serviço!

Tratei de me afastar logo dali porque a introdução indicava que o assunto iria render uns bocados de minutos, como sempre acontece quando sou flagrado nesses esquecimentos.

HORA DE REAGIR

O que me aborrece é que a cada dia mais me convenço de que as pessoas esperam – ao contrário da realidade – que um homem torne-se perfeito com o passar do tempo. Se eu fosse 25 anos mais jovem esse achado provavelmente nem chegaria ao meu conhecimento. Entendem que alguém nessa idade quando esquece coisas é por "excesso de problemas no trabalho" e sabem que nem adianta tentar corrigir a pessoa.

Há cerca de uma semana, uma colega minha, de seus 30 anos, teve um esquecimento semelhante. Ela deixou o celular novinho no bolso da calça jeans que foi parar, sem ser visto, na máquina de lavar roupas lá dela. O aparelho foi chacoalhado à exaustão naquele mar de “OMO”, rodopiou por várias vezes por cerca de quinze minutos cada, e só depois de enxaguado e devidamente centrifugado foi que a Constância – a moça que trabalha pra ela – percebeu o desastre:

– Dona Salete! a senhora esqueceu o celular no bolso da calça e ele foi lavado junto com as roupas! – gritou Constância para minha amiga que estava em outro cômodo da casa.

– E será que ele está funcionando?  gritou outra voz de lá de dentro mais por curiosidade que por lamentação.

– Acho que vai acontecer igual ao meu que uma vez também caiu na máquina: não vai funcionar nunca mais! Porém, está limpinho e cheirando a “Confort”! – gritou de novo a serviçal.

Viu a diferença? A visão de mundo da Constância? Acima de tudo experiente e, por isto, compreensiva para com jovens maduras ocupadas. Eu que já passei dos 70 esqueço uma moeda de 50 centavos na roupa e parece que cometi um crime. Quando eu conto o ocorrido para alguém, todos me olham como se estivessem duvidando de minha sanidade mental.  Já minha colega, de 30 anos de idade, detona um celular de R$ 1,2 mil, com dois dias de uso e ninguém questiona o ocorrido?!

Estamos no final dos tempos. É hora de reagir: Cadê meu “Estatuto do idoso”?