domingo, 20 de maio de 2018

Salve Dona Cida Quitueira

Dia destes conheci melhor Maria Aparecida Jacinto, Dona Cida Quituteira, como é tratada nos meios apreciadores da boa comida tradicional de Jacareí, (Vale do Paraíba) em São Paulo. Cida já preparou e serviu milhares de refeições, a maioria para membros de clubes de serviços, como Rotary, Lyons e Maçonaria. Quem desfruta a vida social jacareiense, é quase certo que já experimentou um de seus "acepipes", como costuma dizer o promotor de justiça local, José Luiz Bednarski, admirador da quituteira. E, para quem a experiência de fato aconteceu, com certeza a felizarda ou o felizardo repetiu o prato.

Cida há mais de 30 anos cozinha nesse agito local de reuniões semanais dos "rôtaris" de Jacareí e nesse período já surpreendeu o paladar de membros da maçonaria e de entidades filantrópicas semelhantes. Nunca se preocupou em saber quantos membros formam seus "admiradores" e, se o fizesse, com certeza teria perdido a conta, dada a agitação contínua que a atividade exige dela.

 O INÍCIO

Tudo começou em 1972, ela com 13 anos, na cidade litorânea de Santos (SP) onde morou com uma prima. Aos 18, em 1977, voltou para Jacareí para uma colocação de trabalho intermediada por uma sobrinha. Era para cozinhar na então movimentada "Loja Bidu", hoje extinta, engolida que foi pelas grandes magazines que invadiram a cidade. Fazia café e almoço para os funcionários. Logo se tornou conhecida pela qualidade de seus preparados e, não demorou, foi convidada pelo médico Wandir Porcionato para cozinhar os jantares do Rotary Clube Jacareí às quintas-feiras. 

Logo depois, com a inauguração do Rotary Jacareí Oeste, foi automático: passou também a atender o novo clube às terças-feiras, levada pelo médico Venceslau Miranda e pelo executivo Nestor Pelóggia. Com isso, são 32 anos diretos no Jacareí e no Oeste, mais as passagens, durantes períodos seguidos, pelos "rôtaris" Flórida, Três de Abril e Avareí. 

MESTRE CUCA

Qual o segredo dessa preferência por sua cozinha? Modesta, ela diz que não existe prato seu mais elaboração que outro. Revela, porém, um segredo: seu "mestre cuca" e orientador para pratos refinados é o comerciante Flávio Esper com quem, diz, aprendeu muito e continua aprendendo: "ele sim, faz coisas especiais na cozinha", explica admirada.

Para ilustrar, conta que dia destes preparou o jantar da "Noite do Salmão" para 300 pessoas, que fez muito sucesso. Foi em benefício da casa de repouso para idosos "Amor e Caridade", em Jacareí mesmo. "Ficou na história", garante quem participou.

TECNOLOGIA

Mas, Dona Cida quer ir mais longe, Em abril de 2018 ela fez matrícula no básico do curso EJA (Educação para Jovens e Adultos) mantido pela secretaria de Educação local. "Eu preciso aprender esse negócio de mexer no computador porque se vou ficar para trás", diz ela preocupada em acompanhar o avanço da tecnologia.

Vai encarar novos desafios sem, claro, deixar o ramo de trabalho que lhe deu independência financeira, e com o qual formou seu filho em publicidade e marketing. Mas, segue sem pressa. Segundo seus admiradores, "para sorte nossa, computador nenhum no mundo vai conseguir, igual a ela, preparar um pintado cozido com mandioca ao molho de ervas", como se provou na terça-feira, 15 de maio de 2018. Uma data memorável para a gastronomia jacareiense. Sem exagero; sou testemunha.

sábado, 6 de janeiro de 2018

HAIKAI "DOS MANO"


Para quem não conhece, Haikai é um poema de origem japonesa adaptada no Brasil em sua forma acadêmica pelo poeta Guilherme de Almeida.

Considerado um excelente exercício para sintetizar ideias e desenvolver a criação de pequenos textos com grandes significados, o Haikai brasileiro tem o formato:

Três versos com um total de 17 sílabas distribuídas assim:
_  _  _  _  _             ou seja, 5 sílabas no primeiro verso;
_  _  _  _  _  _     ou seja, 7 sílabas no segundo verso
_  _  _  _  _             novamente 5 sílabas, no último verso.

Existem, ainda, 4 sílabas que devem ter rimas entre si:

01  02  03  04  05
06  07  08  09  10  11  12
13  14  15  16  17

a sílaba 05 deve rimar com a sílaba 17 e
a sílaba 07 deve rimar com a sílaba 12.

Lembre-se de que ao final de cada verso, para efeito de contagem, são lconsideradas apenas as sílabas tônicas (aquela que é acentuada, levando ou não acento gráfico), as chamadas "sílabas poéticas".
Por exemplo:

Veja  o  prefeito (A quinta sílaba é fei; o to não conta):
Põe fé: pré-feito, não é
Nem mesmo perfeito (A quinta sílaba é fei; o to não conta).

Agora, leia o Haikai dos mano, sem ajuda das cores nem dos números:


Pra saí co a "mina",

Ó mano, tô "precisano"

"Ganhá" na quina.





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MORAL DA COISA:


Com pouco de prática Você passa a crer:
Versos e matemática. Têm tudo a ver!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Esquecidos domésticos, uni-vos!


Atravessou a área de serviço e veio em minha direção de cara fechada tão logo tirou a última peça de roupa da máquina de lavar. Alzira exibia na mão uma pequena moeda prateada de 50 centavos e esforçava-se para que o objeto não ficasse encoberto pela montanha de roupa umedecida que ela transportava ao mesmo tempo.

– O senhor deixou outra vez moeda no bolso da calça jeans, que ficou entalada no batedor da máquina, seu Veloso; qualquer hora vai travar tudo – disse Alzira com aquela autoridade profissional que os mais de dez anos como diarista na minha casa lhe permitem.

– Está bem, me desculpe, vou tomar mais cuidado – disse-lhe eu sem esconder o desconforto de ser flagrado em mais um dos crimes domésticos que estão sendo cada vez mais praticados por mim de uns tempos para cá.

Depois de sentir o efeito que me causou sua descoberta, Alzira mudou a voz para uma tonalidade mais maternal:

– Sabe, né? Por mim tudo bem; é que não fica nada barato ter de consertar a máquina, caso ela se quebre.  E quem vai gastar dinheiro com o conserto é o senhor mesmo, não é?  disse, e voltou a carregar na voz para completar: se bem que a máquina parada vai atrapalhar toda minha programação de serviço!

Tratei de me afastar logo dali porque a introdução indicava que o assunto iria render uns bocados de minutos, como sempre acontece quando sou flagrado nesses esquecimentos.

HORA DE REAGIR

O que me aborrece é que a cada dia mais me convenço de que as pessoas esperam – ao contrário da realidade – que um homem torne-se perfeito com o passar do tempo. Se eu fosse 25 anos mais jovem esse achado provavelmente nem chegaria ao meu conhecimento. Entendem que alguém nessa idade quando esquece coisas é por "excesso de problemas no trabalho" e sabem que nem adianta tentar corrigir a pessoa.

Há cerca de uma semana, uma colega minha, de seus 30 anos, teve um esquecimento semelhante. Ela deixou o celular novinho no bolso da calça jeans que foi parar, sem ser visto, na máquina de lavar roupas lá dela. O aparelho foi chacoalhado à exaustão naquele mar de “OMO”, rodopiou por várias vezes por cerca de quinze minutos cada, e só depois de enxaguado e devidamente centrifugado foi que a Constância – a moça que trabalha pra ela – percebeu o desastre:

– Dona Salete! a senhora esqueceu o celular no bolso da calça e ele foi lavado junto com as roupas! – gritou Constância para minha amiga que estava em outro cômodo da casa.

– E será que ele está funcionando?  gritou outra voz de lá de dentro mais por curiosidade que por lamentação.

– Acho que vai acontecer igual ao meu que uma vez também caiu na máquina: não vai funcionar nunca mais! Porém, está limpinho e cheirando a “Confort”! – gritou de novo a serviçal.

Viu a diferença? A visão de mundo da Constância? Acima de tudo experiente e, por isto, compreensiva para com jovens maduras ocupadas. Eu que já passei dos 70 esqueço uma moeda de 50 centavos na roupa e parece que cometi um crime. Quando eu conto o ocorrido para alguém, todos me olham como se estivessem duvidando de minha sanidade mental.  Já minha colega, de 30 anos de idade, detona um celular de R$ 1,2 mil, com dois dias de uso e ninguém questiona o ocorrido?!

Estamos no final dos tempos. É hora de reagir: Cadê meu “Estatuto do idoso”?